Vinte e três horas e três minutos. A
televisão fazia-lhe companhia naquele fim de noite e ele não prestava atenção
em nada que se passava nela. Estava mergulhado em suas emoções e escrevia em
seu computador portátil. Pensava ser uma atitude imatura ficar ali escrevendo coisas
que despertavam sua vontade e sua saudade. Coisas que mexiam com o seu afeto e
com a sua mágoa...
Precisava continuava a escrever, mesmo
se contradizendo. De quando em vez, indagava consigo: Se não for assim,
será difícil expor minhas conclusões. Conclusões estas em relação às
pessoas que passaram por sua vida. Acontecimentos que ele não conseguia
explicar a ninguém. Apenas à “folha de papel”, ou melhor, ao software utilizado.
Continuava a escrever muito inspirado.
Seus pensamentos davam-lhe tanto entusiasmo em colocar nas entrelinhas o que
morava em seu coração que ele digitava sem interrupções. Suas ideias eram férteis
e suas lágrimas também. Pra que tirar conclusões disso tudo? Perguntava
a si próprio e logo era surpreendido por outras perguntas, Mas, disso
tudo o que? Ai, ai, ai! Será que estou ficando louco e fazendo mais uma vez
confusão em meus pensamentos?
Estava apenas confuso. Louco não, de
maneira alguma. Tinha sã consciência de seus pensamentos formados e
transformados em palavras digitadas. Gostava de escrevê-las. Quando o fazia era
como conversar com alguém de sua confiança. Era como falar com alguém que
demonstra ter todo o tempo possível para escutá-lo e atenção a oferecê-lo.
Entretanto, continuava a escrever. As
lágrimas continuavam descendo...
Bruno era seu nome. Tinha dezenove anos
recém-completados. Setenta quilos distribuídos no seu corpo de um metro e
setenta e nove de altura. Cabelos e olhos bem negros que se realçavam em sua
pele morena clara. Não era bonito como seus cantores internacionais preferidos,
mas chamava atenção das pessoas pelo seu modo de ser, falar, vestir... Pelo seu
comportamento calmo, porém inusitado. O que opinava em fazer, nunca comentava
com os outros, pois, caso contrário, pensava não poder dar certo. Essa era uma
atitude um tanto supersticiosa que ele mantinha consigo há algum tempo.
Decepcionou-se em comentar com seus colegas de classe de Ensino Médio que seus
pensamentos eram contraditórios com os deles...
A confusão psicológica que fazia
atualmente era devido a intensas aproximações de pessoas que ele experimentou
nos últimos cinco anos. Aproximações essas com intuito sexual. Apenas com
intuito sexual...
Apesar desse intuito, numa dessas
diversas aproximações, Bruno se apaixonou. Bruno se apaixonou perdidamente.
Hoje, mergulhado em seus pensamentos, ele entende de vez como foram os
pensamentos dos que se aproximaram dele com melhores intenções e tiveram que
engolir seu intuito. Antes Bruno não entendia muito sobre paixão. Achava tudo
careta demais e chegava a rir dos que se diziam apaixonados por ele. Hoje quem
engolia o fato era ele. Pobre Bruno! Pobre Apaixonado! Pobre amor não
correspondido.
Continuava a escrever, escrever,
escrever. Percebia que era sempre assim seu momento de reflexão. A “folha” em
branco lhe dava cautela para expor suas ideias, vontades, sentimentos... Algo
que ele não conseguia expor a ninguém. Apenas à “folha” em branco. Apenas ao
seu atual melhor companheiro: o programa de edição de textos.
Seus pensamentos contraditórios o
interrompem mais uma vez: Pra que escrever essa cafonice toda? Pareço
até aquelas garotinhas adolescentes apaixonadas que escrevem coisinhas idiotas
em seus diários.
O pensamento sempre contraditório ao
seu ato presente. Mas a necessidade de desabafar o seu excesso de sentimentos,
prevalecia.
Já passava da meia noite quando o
telefone celular de Bruno anunciou uma nova mensagem de texto: Se estiver
acordado, me ligue. Quero te ver agora, se possível. Bruno, num rápido
impulso, discou o número que já estava gravado em sua mente e, ao ser atendido,
disse: Estava pensando em você, onde te encontro?...
Bruno fez uma ligeira troca de roupa e
saiu. Seu computador ficou ali, ligado.
Desde o recebimento da mensagem, Bruno
esquecera tudo o que tinha escrito e o que tinha chorado. Todavia já era
esperado que, sem qualquer dúvida, esse encontro com quem dilacerava seu
coração seria em vão: Amanhã estaria ele novamente fazendo seu desabafo com seu
melhor amigo, sozinho em seu quarto, lembrando, escrevendo, chorando e à espera
de mais um contato com quem, atualmente, mora em seu coração.