19 fevereiro 2013

Pieguice

Vinte e três horas e três minutos. A televisão fazia-lhe companhia naquele fim de noite e ele não prestava atenção em nada que se passava nela. Estava mergulhado em suas emoções e escrevia em seu computador portátil. Pensava ser uma atitude imatura ficar ali escrevendo coisas que despertavam sua vontade e sua saudade. Coisas que mexiam com o seu afeto e com a sua mágoa...
Precisava continuava a escrever, mesmo se contradizendo. De quando em vez, indagava consigo: Se não for assim, será difícil expor minhas conclusões. Conclusões estas em relação às pessoas que passaram por sua vida. Acontecimentos que ele não conseguia explicar a ninguém. Apenas à “folha de papel”, ou melhor, ao software utilizado.
Continuava a escrever muito inspirado. Seus pensamentos davam-lhe tanto entusiasmo em colocar nas entrelinhas o que morava em seu coração que ele digitava sem interrupções. Suas ideias eram férteis e suas lágrimas também. Pra que tirar conclusões disso tudo? Perguntava a si próprio e logo era surpreendido por outras perguntas, Mas, disso tudo o que? Ai, ai, ai! Será que estou ficando louco e fazendo mais uma vez confusão em meus pensamentos?
Estava apenas confuso. Louco não, de maneira alguma. Tinha sã consciência de seus pensamentos formados e transformados em palavras digitadas. Gostava de escrevê-las. Quando o fazia era como conversar com alguém de sua confiança. Era como falar com alguém que demonstra ter todo o tempo possível para escutá-lo e atenção a oferecê-lo. Entretanto, continuava a escrever.  As lágrimas continuavam descendo...
Bruno era seu nome. Tinha dezenove anos recém-completados. Setenta quilos distribuídos no seu corpo de um metro e setenta e nove de altura. Cabelos e olhos bem negros que se realçavam em sua pele morena clara. Não era bonito como seus cantores internacionais preferidos, mas chamava atenção das pessoas pelo seu modo de ser, falar, vestir... Pelo seu comportamento calmo, porém inusitado. O que opinava em fazer, nunca comentava com os outros, pois, caso contrário, pensava não poder dar certo. Essa era uma atitude um tanto supersticiosa que ele mantinha consigo há algum tempo. Decepcionou-se em comentar com seus colegas de classe de Ensino Médio que seus pensamentos eram contraditórios com os deles...
A confusão psicológica que fazia atualmente era devido a intensas aproximações de pessoas que ele experimentou nos últimos cinco anos. Aproximações essas com intuito sexual. Apenas com intuito sexual...
Apesar desse intuito, numa dessas diversas aproximações, Bruno se apaixonou. Bruno se apaixonou perdidamente. Hoje, mergulhado em seus pensamentos, ele entende de vez como foram os pensamentos dos que se aproximaram dele com melhores intenções e tiveram que engolir seu intuito. Antes Bruno não entendia muito sobre paixão. Achava tudo careta demais e chegava a rir dos que se diziam apaixonados por ele. Hoje quem engolia o fato era ele. Pobre Bruno! Pobre Apaixonado! Pobre amor não correspondido.
Continuava a escrever, escrever, escrever. Percebia que era sempre assim seu momento de reflexão. A “folha” em branco lhe dava cautela para expor suas ideias, vontades, sentimentos... Algo que ele não conseguia expor a ninguém. Apenas à “folha” em branco. Apenas ao seu atual melhor companheiro: o programa de edição de textos.
Seus pensamentos contraditórios o interrompem mais uma vez: Pra que escrever essa cafonice toda? Pareço até aquelas garotinhas adolescentes apaixonadas que escrevem coisinhas idiotas em seus diários.
O pensamento sempre contraditório ao seu ato presente. Mas a necessidade de desabafar o seu excesso de sentimentos, prevalecia.
Já passava da meia noite quando o telefone celular de Bruno anunciou uma nova mensagem de texto: Se estiver acordado, me ligue. Quero te ver agora, se possível. Bruno, num rápido impulso, discou o número que já estava gravado em sua mente e, ao ser atendido, disse: Estava pensando em você, onde te encontro?...
Bruno fez uma ligeira troca de roupa e saiu. Seu computador ficou ali, ligado.
Desde o recebimento da mensagem, Bruno esquecera tudo o que tinha escrito e o que tinha chorado. Todavia já era esperado que, sem qualquer dúvida, esse encontro com quem dilacerava seu coração seria em vão: Amanhã estaria ele novamente fazendo seu desabafo com seu melhor amigo, sozinho em seu quarto, lembrando, escrevendo, chorando e à espera de mais um contato com quem, atualmente, mora em seu coração.

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